O interesse em estudar grupos de torcedores organizados e suas relações de amizades extra- grupal deve-se ao fato de que as alianças estabelecidas entre algumas torcidas organizadas assume uma importância fundamental no estilo de vida dos torcedores, sendo reconhecida pelos demais torcedores organizados de outras torcidas, do mesmo clube ou de clubes diferentes, cujas idéias, ambições, desejos e vaidades estão intimamente relacionados a preservação e manutenção do grupo social do ao qual eles pertencem. As relações de amizade/inimizade entre as torcidas organizadas teve como um dos elementos importantes para sua constituição as caravanas de viagens para acompanharem seus clubes por diversos estados do país. A partir do campeonato brasileiro de futebol, criado em 1971, essas redes de amizade/inimizade foram sendo desenhadas e reafirmadas ao longo dos anos. As "alianças entre torcidas organizadas começaram a ser constituídas em um dualismo amizade/inimizade que variava ao sabor das recepções, se hospitaleiras ou hostis, bem como das circunstâncias da rivalidade entre os clubes ou ainda dos contatos pessoais entre as lideranças de cada torcida” (HOLANDA, 551).
A sociabilidade entre as Torcidas Organizadas de Futebol Aliadas formam redes sociais em que relações de reciprocidade e prestígio fazem parte dessa “união” entre os integrantes que delas participam, extrapolando as fronteiras do campo esportivo, envolvendo também os familiares dos torcedores organizados ...torcidas organizadas aliadas, onde as relações entre os torcedores pertencentes destas instituições mantêm relações de amizade não somente durante as partidas de futebol, como antes e depois dos jogos.
Muitas vezes, as torcidas organizadas são apresentadas pela mídia como reduto de vândalos e baderneiros, que praticam atos de violência de forma gratuita. Ao desenvolver este trabalho, percebi que as torcedores organizados de futebol são sujeitos que estão comprometidos com o espetáculo futebolístico, dedicando grande parte de suas vidas à acompanhar seus clubes diariamente, não se restringindo a irem ao estádio e torcer, sua maior paixão. O envolvimento desses jovens com as torcidas organizadas muitas vezes compromete suas relações familiares, escolares, trabalhistas, tamanho é o envolvimento que alguns torcedores passam a ter com a torcida e suas caravanas.
A emoção que o futebol proporciona aos torcedores, em especial aos organizados, lembra aquilo que Norbert Elias (1992) argumentou a cerca do processo civilizador e o controle das emoções coletivas. Os estádios de futebol e as grandes arenas esportivas são locais onde as emoções coletivas podem ser liberadas e exibidas na modernidade por esses torcedores organizados e não organizados, claro. A estrutura de uma torcida organizada não se restringe ao espetáculo por elas apresentadas dentro dos estádios. Faz-se necessário ter competências para que sua organização, sua capacidade para a festa e sua atuação na pista sejam reconhecidas pelos outros grupos torcedores.
A organização de uma torcida passa pela sua legalidade para funcionar como agremiações e sua relação com outras instituições (Polícia Militar, Clubes de futebol, outras torcidas organizadas, ...), além da burocracia interna para organização da instituição.
A festa promovida pelas torcidas dentro dos estádios é sempre pensada e elaborada durante os dias que antecedem os jogos. Nas reuniões nas sedes, os responsáveis pela torcida dedicam grande parte do seu tempo para promoverem um belo espetáculo durante a partida, selecionando as bandeiras e faixas, fazendo manutenção dos instrumentos musicais utilizados pelos membros que participam da bateria da torcida, sinalizadores (hoje em dia está proibído ma ainda é utilizado por algumas torcidas no Brasil principalmente em finais, inclusive torcidas de outros países acenderam sinalizadores em solo nacional após proibição), papel picado, entre outros adereços utilizados pelas agremiações.
A festa promovida pelas torcidas dentro dos estádios é sempre pensada e elaborada durante os dias que antecedem os jogos. Nas reuniões nas sedes, os responsáveis pela torcida dedicam grande parte do seu tempo para promoverem um belo espetáculo durante a partida, selecionando as bandeiras e faixas, fazendo manutenção dos instrumentos musicais utilizados pelos membros que participam da bateria da torcida, sinalizadores (hoje em dia está proibído ma ainda é utilizado por algumas torcidas no Brasil principalmente em finais, inclusive torcidas de outros países acenderam sinalizadores em solo nacional após proibição), papel picado, entre outros adereços utilizados pelas agremiações.
A pista pode ser entendida aqui como o local onde grupos de torcedores rivais podem se encontrar e entrar em conflito, defendendo o patrimônio e honra de sua agremiação, querendo fazer história na torcida. As ruas das grandes cidades, as principais vias de acesso aos estádios, estações de trem e metrô, podem ser consideradas locais onde os torcedores organizados devem manter sua coesão interna, defendendo o grupo ao qual pertencem, utilizando como um dos mecanismos de defesa da honra torcedora os confrontos físicos.
O sentido da honra entre os torcedores organizados de futebol encontra-se na situação de reconhecimento de outros grupos torcedores. A possibilidade sempre existente de um confronto com outro grupo torcedor é o que compõem a honra dos torcedores, o desafio por eles enfrentados, seus perigos e riscos, na organização, festa e pista.
Ao ter um de seus “troféus” roubados por um grupo rival, o mesmo deve ser tentado numa próxima oportunidade. A necessidade de manifestar a superioridade do grupo torcedor ao qual pertence sem eliminar o oponente constitui-se o jogo da honra.
Ao ter um de seus “troféus” roubados por um grupo rival, o mesmo deve ser tentado numa próxima oportunidade. A necessidade de manifestar a superioridade do grupo torcedor ao qual pertence sem eliminar o oponente constitui-se o jogo da honra.
O intervalo existente entre o dom e contra dom entre os grupos torcedores aliados está baseado no calendário dos campeonatos interestaduais que os clubes ao qual dedicam suas atividades disputam. O intervalo entre os jogos “dentro de casa” e “fora de casa” insere a incerteza entre as torcidas organizadas aliadas, sendo necessário demonstrar suas relações de amizade jogo após jogo. Aqui busquei entrar em contato diretamente com os torcedores organizados. O responsável por uma das sedes da Torcida Jovem do Flamengo foi o principal deles, sendo meu torcedor-informante, auxiliando na pesquisa, respondendo as questões por mim levantadas e se mostrando solidário com o trabalho desenvolvido. Os resultados da pesquisa cientifica aqui desenvolvido foram apresentados de maneira clara e absolutamente honesta. Na tentativa de situar o leitor em um ambiente talvez desconhecido, consideramos que a etnografia, de acordo com Malinowski, refere-se: “(...) a ciência em que o relato honesto de todos os dados é talvez ainda mais necessário que em outras ciências... e muitos autores de etnografias não utilizam plenamente recurso da sinceridade metodológica ao manipular os fatos e apresentam ao leitor como que extraídos do nada... sem que os autores revelem algo sobre as experiências concretas que os levaram às suas conclusões”.
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