O feminino no "pelotão"
A presença de mulheres nos estádios vem crescendo
gradativamente, essa tendência é representada pela participação de
mulheres em programas esportivos ligados ao futebol e a criação de
diversas comunidades em sites de relacionamentos da internet exaltando
a paixão pelo esporte e pelo time de coração. Sendo assim, essa
tendência evidencia o desgaste do jargão: “futebol é coisa de homem”.
Idéia difundida até pouco tempo, caracterizada pela pequena presença
feminina nos jogos, sendo as mulheres desestimuladas devido aos casos
de violência ou mesmo proibidas pelas famílias de freqüentarem as
arquibancadas.
Devido o aparecimento dos torcedores símbolos, como Jaime de
Carvalho, algumas mulheres passaram a ter visibilidade no futebol por
24 IAPI da Penha é um conjunto habitacional localizado no bairro da Penha, que se tornou um dos locais
de encontro dos torcedores da Torcida Jovem do Flamengo antes das partidas realizadas no estádio do
Maracanã.
25 A linha de ônibus normalmente utilizado pelos torcedores do 4° pelotão para irem ao estádio do
Maracanã é a linha 665 (Pavuna – Praça Saens Peña).
44
seu amor incondicional ao time, como é o caso da torcedora-símbolo
Elisa, que no ano de 1953 ganhou o prêmio de torcedor número 1 do
Corinthians, seu prestigio era tal, que foi a ela dado um ingresso
permanente da Federação Paulista de Futebol que lhe permitia entrar em
qualquer estádio.
Em 1961, outra mulher a se destacar no cenário torcedor foi Dulce
Rosalina, torcedora do Vasco da Gama, ela ganhou o título de melhor
torcedor do país, por acompanhar seu time em partidas no Rio de Janeiro
e fora da cidade.
No ano de 1956 Dulce Rosalina passa a ser primeira
mulher presidente de uma torcida organizada, a TOV (Torcida
Organizada do Vasco), organização fundada no ano de 1944, mas por
problemas políticos em 1966, Dulce deixa a TOV e funda a torcida
Renovascão da qual esteve presente até seu falecimento em 2004.
De acordo com Leda Maria da Costa (2006) a maior presença de
mulheres nas torcidas organizadas de futebol se dá a partir da criação de
facções femininas dentro de alguns grupos, como o casos na Torcida
Jovem do Flamengo, Dragões da Real (São Paulo Futebol Clube) e da
Torcida Organizada Galoucura (Atlético Mineiro). Mas em alguns casos
a presença das mulheres é tão intensa que são criadas torcidas
exclusivamente femininas como é o caso da torcida Mulheraço (Volta
Redonda), Gatas da Fiel (Paysandu).
De acordo com Teixeira (2004), os membros masculinos das
organizadas associam a escassez de agrupamentos femininos nas torcidas
devido ao temperamento feminino ser “pouco afeito à união e
constantemente inclinado a promover desavenças internas nos grupos dos
quais fazem parte. Além disso, os torcedores masculinos costumam
apontar a falta de estrutura desses agrupamentos femininos dentro das
torcidas.
No caso da Torcida Jovem do Flamengo, as palavras de um de
seus monitores de pelotão mostra como se relacionam os torcedores
masculinos e femininos dentro da torcida:
“Por exemplo, as meninas aqui do 4º pelotão não participam do pelotão feminino,
fazem questão de dizer que são do 4º e não do feminino.Por causa da futilidade das
meninas do feminino, e na prática nosso feminino não serve pra nada...as meninas
45
aqui gostam de ser úteis e participativas. Elas dizem que as meninas do feminino só
sabem beber e fazer churrasco”. Monitor Roberto.
Na Torcida Jovem do Flamengo, a torcida feminina, conhecida
como pelotão feminino foi criado no ano de 1991 e de acordo com o site
as torcedoras se intitulam como “um grupo de guerreiras que fundaram o
primeiro pelotão destinado as mulheres... somos pioneiras”. Para as
torcidas organizadas é interessante a maior participação de mulheres para
que seja desvinculada a imagem de violência agregada a essas
organizações.
Mas no caso das torcedoras que freqüentam a sede do 4º pelotão,
elas preferem não participar do pelotão feminino da torcida por
acreditarem ser mais úteis dentro do pelotão ao qual freqüentam.
“Bom mano, aqui no 4º pelotão elas participam dando idéias, estando no dia a dia, se
precisamos transportar algo ou alguém, vêm uma com o carro e leva, se precisamos
nos livrar de dura ou coisas do tipo elas estão do lado e por aí vai, são componentes
muitos úteis”. Monitor Roberto.
Ou seja, de acordo com o monitor do 4º pelotão, estas torcedoras
querem se desvincular da imagem de festeiras que as mulheres ganharam
na torcida. Estas integrantes se engajam assim como os homens
torcedores, buscam responsabilidades e procuram se inteirar de todos os
assuntos que circundam seu agrupamento seja na elaboração de projetos,
no transporte ou em defesa de integrantes do seu grupo perante a ação da
polícia.
O 4º pelotão por ter uma relação diferenciada com as mulheres
torcedoras de acordo com seu monitor ganha a participação feminina de
outros pelotões.
“Cara, na realidade acontece só aqui, aqui vem até meninas de outros pelotões. Tem
uma do 2º, três do 7º, uma do 3º e uma do 1º que dizem com orgulho que são do 4º.
Participam também mulheres de outros pelotões como uma do 1º, 2º, 3º e três do 7º
“pelotão”. Porque aqui damos espaço a elas. Em outros lugares os caras vêem elas
apenas co mo uma vadia que veio pra torcida atrás de piru E tem umas que aceitam
isso. As daqui não”. Monitor Roberto.
46
A participação das mulheres vem sendo cada vez mais respeitada
dentro do mundo do futebol, assim como na prática do esporte, na
torcida, na arbitragem e também na administração de clubes,
desmistificando o futebol como um esporte viril, masculino e violento.