terça-feira, 27 de outubro de 2015

A participação feminina na Torcida Jovem do Flamengo

O feminino no "pelotão" 

A presença de mulheres nos estádios vem crescendo gradativamente, essa tendência é representada pela participação de mulheres em programas esportivos ligados ao futebol e a criação de diversas comunidades em sites de relacionamentos da internet exaltando a paixão pelo esporte e pelo time de coração. Sendo assim, essa tendência evidencia o desgaste do jargão: “futebol é coisa de homem”. 

Idéia difundida até pouco tempo, caracterizada pela pequena presença feminina nos jogos, sendo as mulheres desestimuladas devido aos casos de violência ou mesmo proibidas pelas famílias de freqüentarem as arquibancadas. Devido o aparecimento dos torcedores símbolos, como Jaime de Carvalho, algumas mulheres passaram a ter visibilidade no futebol por 24 IAPI da Penha é um conjunto habitacional localizado no bairro da Penha, que se tornou um dos locais de encontro dos torcedores da Torcida Jovem do Flamengo antes das partidas realizadas no estádio do Maracanã. 25 A linha de ônibus normalmente utilizado pelos torcedores do 4° pelotão para irem ao estádio do Maracanã é a linha 665 (Pavuna – Praça Saens Peña). 44 seu amor incondicional ao time, como é o caso da torcedora-símbolo Elisa, que no ano de 1953 ganhou o prêmio de torcedor número 1 do Corinthians, seu prestigio era tal, que foi a ela dado um ingresso permanente da Federação Paulista de Futebol que lhe permitia entrar em qualquer estádio. Em 1961, outra mulher a se destacar no cenário torcedor foi Dulce Rosalina, torcedora do Vasco da Gama, ela ganhou o título de melhor torcedor do país, por acompanhar seu time em partidas no Rio de Janeiro e fora da cidade. 

No ano de 1956 Dulce Rosalina passa a ser primeira mulher presidente de uma torcida organizada, a TOV (Torcida Organizada do Vasco), organização fundada no ano de 1944, mas por problemas políticos em 1966, Dulce deixa a TOV e funda a torcida Renovascão da qual esteve presente até seu falecimento em 2004. De acordo com Leda Maria da Costa (2006) a maior presença de mulheres nas torcidas organizadas de futebol se dá a partir da criação de facções femininas dentro de alguns grupos, como o casos na Torcida Jovem do Flamengo, Dragões da Real (São Paulo Futebol Clube) e da Torcida Organizada Galoucura (Atlético Mineiro). Mas em alguns casos a presença das mulheres é tão intensa que são criadas torcidas exclusivamente femininas como é o caso da torcida Mulheraço (Volta Redonda), Gatas da Fiel (Paysandu). De acordo com Teixeira (2004), os membros masculinos das organizadas associam a escassez de agrupamentos femininos nas torcidas devido ao temperamento feminino ser “pouco afeito à união e constantemente inclinado a promover desavenças internas nos grupos dos quais fazem parte. Além disso, os torcedores masculinos costumam apontar a falta de estrutura desses agrupamentos femininos dentro das torcidas. 

No caso da Torcida Jovem do Flamengo, as palavras de um de seus monitores de pelotão mostra como se relacionam os torcedores masculinos e femininos dentro da torcida: “Por exemplo, as meninas aqui do 4º pelotão não participam do pelotão feminino, fazem questão de dizer que são do 4º e não do feminino.Por causa da futilidade das meninas do feminino, e na prática nosso feminino não serve pra nada...as meninas 45 aqui gostam de ser úteis e participativas. Elas dizem que as meninas do feminino só sabem beber e fazer churrasco”. Monitor Roberto. Na Torcida Jovem do Flamengo, a torcida feminina, conhecida como pelotão feminino foi criado no ano de 1991 e de acordo com o site as torcedoras se intitulam como “um grupo de guerreiras que fundaram o primeiro pelotão destinado as mulheres... somos pioneiras”. Para as torcidas organizadas é interessante a maior participação de mulheres para que seja desvinculada a imagem de violência agregada a essas organizações. Mas no caso das torcedoras que freqüentam a sede do 4º pelotão, elas preferem não participar do pelotão feminino da torcida por acreditarem ser mais úteis dentro do pelotão ao qual freqüentam. “Bom mano, aqui no 4º pelotão elas participam dando idéias, estando no dia a dia, se precisamos transportar algo ou alguém, vêm uma com o carro e leva, se precisamos nos livrar de dura ou coisas do tipo elas estão do lado e por aí vai, são componentes muitos úteis”. Monitor Roberto. Ou seja, de acordo com o monitor do 4º pelotão, estas torcedoras querem se desvincular da imagem de festeiras que as mulheres ganharam na torcida. Estas integrantes se engajam assim como os homens torcedores, buscam responsabilidades e procuram se inteirar de todos os assuntos que circundam seu agrupamento seja na elaboração de projetos, no transporte ou em defesa de integrantes do seu grupo perante a ação da polícia. O 4º pelotão por ter uma relação diferenciada com as mulheres torcedoras de acordo com seu monitor ganha a participação feminina de outros pelotões. “Cara, na realidade acontece só aqui, aqui vem até meninas de outros pelotões. Tem uma do 2º, três do 7º, uma do 3º e uma do 1º que dizem com orgulho que são do 4º. Participam também mulheres de outros pelotões como uma do 1º, 2º, 3º e três do 7º “pelotão”. Porque aqui damos espaço a elas. Em outros lugares os caras vêem elas apenas co mo uma vadia que veio pra torcida atrás de piru E tem umas que aceitam isso. As daqui não”. Monitor Roberto. 46 A participação das mulheres vem sendo cada vez mais respeitada dentro do mundo do futebol, assim como na prática do esporte, na torcida, na arbitragem e também na administração de clubes, desmistificando o futebol como um esporte viril, masculino e violento.  

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